Aquietar o corpo e concentrar a mente. Quando praticamos Mindfulness, estamos cultivando habilidades que podem fugir do que as crianças estão acostumadas. E se tudo isso for feito em um novo idioma, será que funciona?
Para responder a essa questão, fomos conversar com três professoras que contaram suas experiências ensinando Mindfulness em inglês: os desafios, os ganhos e mudanças positivas nos estudantes. Os benefícios percebidos são desde diminuição do absenteísmo e resistência ao idioma até aumento da confiança e melhoria de aspectos emocionais.
Gina Lima dá aulas para alunos de 11 a 18 anos e usa Mindfulness em sala de aula com todos. “Praticar em inglês tem sido fantástico. Alguns alunos têm medo da língua estrangeira e Mindfulness diminuiu isso. As crianças ficam mais calmas, há menos conflitos e mais empatia. Os coordenadores e a diretoria percebem a diferença, perguntam da técnica, porque veem diferença”, afirma. Ela acredita que Mindfulness tirou a resistência dos alunos ao estudo do inglês. “A estratégia vai além do conteúdo”, explica. Ela criou uma Caixa de Coleta de Pensamentos na qual os alunos escrevem em inglês pensamentos que os afligem ou que ocupam suas mentes e desviam sua atenção e depositam os papéis na caixa. Gina garante que os papéis são descartados sem ler. “É um desabafo”, diz. Mas, garante que vê melhora no vocabulário, na conversação e até mesmo no absenteísmo e em aspectos emocionais, como a diminuição do medo. “Com a mente mais limpa, fazemos práticas de atenção plena à respiração e quando eles se acalmam, eu começo a ensinar. Isso alavanca o aprendizado”, comemora.
Enquanto isso, Celina Cantidiano está se preparando para seu primeiro desafio bilíngue: vai ensinar Mindfulness para crianças de 5 a 10 anos. A escola bilíngue onde estudou convidou-a a criar um projeto, no qual ela inclui muitas atividades lúdicas e breves, de atenção plena ao corpo, com jogos, contação de histórias, leituras de livros e outras, como a Mente na Garrafa. “A expectativa é conseguir que os alunos possam absorver o que é Mindfulness, levar atenção à respiração de maneira lúdica e estimular os alunos a terem um olhar para inteligência emocional”, explica.
Já Lilia Sabença de Oliveira é professora de alunos de 6 e 7 anos em uma escola internacional na qual o inglês é a terceira língua oferecida aos alunos. Começou a aplicar Mindfulness na sala de aula de maneira intuitiva. “As crianças, mesmo pequenas, já estavam ansiosas. Então, comecei a trabalhar esse aspecto em rodas de conversa em inglês, para implementar um aprendizado de habilidades socioemocionais”. Mas, como as crianças eram pequenas (Pre-A1/CEFR), nem sempre tinham vocabulário suficiente para se expressar a respeito de temas tão abstratos quanto sentimentos. “Então, eu focava na respiração, em atividades simples”. E ela também usava bonecos de pelúcia diferentes, como “talking stick” de acordo com o tema das aulas. “Ao mesmo tempo que a pelúcia tinha a ver com o tema da aula, tinha uma função didática, a questão do toque, do abraço aos bichos de pelúcia era importante para a prática de Mindfulness: trazia um relaxamento. Então, era uma função dupla”.
Segundo Lilia, o desafio também era duplo: primeiro porque no início as crianças não queriam falar sobre seus sentimentos e porque não tinham vocabulário em inglês para tanto. Aos poucos, foram se soltando, falando mais naturalmente sobre o que sentiam e aprendendo palavras que pudessem expressar suas emoções. “Não tinha constrangimento. O aluno que sabia mais ajudava o que não sabia determinada palavra. Eles refinavam, ao mesmo tempo, as emoções, o vocabulário e os sentimentos. Passaram a ficar mais confortáveis para se autoconhecer e falar a respeito de si”. Ela conta que isso ajudou até mesmo crianças tímidas e algumas crianças com necessidades especiais que faziam parte da turma. “cria-se um ambiente de segurança emocional”, afirma.
E, se você quiser saber mais sobre o assunto, Adriana Cardoso, diretora da Maple Bear Panamby, será a convidada de junho Diálogos em Mindfulness na Educação. Não perca!