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Marcas do isolamento

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Crianças e adolescentes vacinados; volta ao ensino presencial, reencontros. O que poderia ser motivo de alegria, tem sido um motivo de preocupação para muitas crianças, adolescentes, seus pais e as escolas.

Recentemente, uma crise de ansiedade coletiva em alunos de uma escola no Recife (PE) obrigou o SAMU a acionar o protocolo de atendimento de múltiplas vítimas, usado normalmente quando acontecem acidentes ou desastres. Em Jarinu (SP), alunos de uma escola se cortaram usando lâminas de apontadores.

Dados da Secretaria da Educação de São Paulo indicam o aumento da violência nas escolas, depois da volta do ensino presencial. Foram registrados mais de 4 mil casos de agressões físicas nas unidades estaduais apenas durante os dois primeiros meses de aula de 2022, um crescimento de mais de 48% em relação ao mesmo período de 2019 – último ano antes da decretação da pandemia de COVID-19.

São dados assustadores, que especialistas apontam como sendo resultado dos danos psicológicos causados pelo isolamento que a pandemia exigiu ser feito.

Assim, a volta ao ensino presencial trouxe à tona o déficit pedagógico, problemas emocionais, educacionais e de relacionamento. A realidade mostra alunos introspectivos, com baixo limiar de frustração, ansiosos, depressivos, com medo de socializar e de contrair o vírus na volta à vida cotidiana. Muitos têm crises de pânico.

Os pequenos têm perda de autonomia, dificuldade de falar e se expressar, de compartilhar brinquedos e materiais. Os mais velhos têm dificuldades de seguir regras e de acatar os professores. As brincadeiras de contato físico não raro têm um elemento agressivo além do esperado. O tempo que os alunos conseguem passar concentrados em alguma atividade diminuiu muito.

 

Um trabalho conjunto

A escola, que tem um papel fundamental na socialização dos alunos, precisou lidar com esse cenário, em que regras de convivência, empatia e respeito pelo próximo parecem ter sido habilidades esquecidas.

Em algumas escolas, há mais um complicador. Há pais e mães que disseram aos filhos que o fechamento aconteceu porque os professores não queriam trabalhar, ou que o certo era que as escolas mantivessem as portas abertas, quando, na verdade, essa foi uma política pública para enfrentar a pandemia. Por isso, no retorno ao presencial, valorizar o professor, a escola e o ensino é essencial. E este é um trabalho conjunto, que precisa ser feito em conjunto com os pais.

Nesse sentido, é importante conscientizar os pais de que deve partir deles a valorização da escola, a orientação para respeitar e obedecer a profissionais de educação e as regras estabelecidas naquele espaço.

Cabe aos pais estarem atentos a qualquer manifestação emocional da criança ou adolescente que possa indicar um problema; supervisionar o tempo de uso de telas e acolher as emoções, conversar e compreender seus filhos, para sinalizar à escola a existência de qualquer alteração importante no comportamento ou no humor.   Assim uma intervenção precoce pode facilitar a recuperação da saúde mental e emocional dos alunos.

Já os professores precisam estar atentos a sintomas como irritabilidade, medos excessivos, alterações de comportamento e dificuldades de socialização, sintomas que podem apontar para um possível transtorno psicológico, ligado a ansiedade e depressão. Nestes casos, também o diagnóstico precoce é fundamental para encaminhar o aluno a um especialista, reduzir danos e melhorar a qualidade de vida, em qualquer idade.

 

 

Iniciativas

Dentro desse contexto tão desafiador, algumas escolas, diante da angústia e do sofrimento de pais e alunos, tomaram iniciativas para minimizar os conflitos que se apresentaram depois da decretação da pandemia de COVID-19.

Uma delas é a proposta “Eu te escuto, eu te acolho”, do Colégio Santa Clara, que atende pais e alunos do Fundamental II e Médio. O espaço, pensado pela pedagoga, psicóloga e neurocientista Daniela Banhato (professora da escola), em conjunto com a também psicóloga, pedagoga e psicopedagoga Irmã Suinan Barbosa de Lima (diretora da escola), oferece acolhimento e conforto socioemocional à comunidade escolar.

Em atendimentos individuais ou em grupos, pais e alunos têm um espaço para serem escutados via ferramentas de videoconferência. Muitas vezes, nem é preciso ligar a câmera; basta apenas falar. “Ele (o projeto) foi criado após percebermos as marcas, as dores como efeito colateral da pandemia. Fomos ao CRP para nos certificarmos do que é permitido e legal, segundo os regimentos do Conselho”, explica Daniela.

Atualmente o projeto atende de 4 a 6 pessoas por semana, em um encontro pontual. Daniela conta que, após os atendimentos, as pessoas que procuram o projeto relatam terem ficado mais leves e que, algumas vezes, procuram Daniela e a Irmã Suinan para pedir contatos de profissionais da área de psicologia. “Inclusive adolescentes que a família trazia resistência para buscar terapia, depois do encontro, percebendo o bem-estar que foi causado e o sigilo do que foi compartilhado, procuraram ajuda profissional”, afirma.

Já em São Bernardo do Campo, o Colégio Petrópolis-Aquarela oferece o Curso de Parentalidade Positiva, que tem como objetivo instrumentalizar as famílias e os educadores para o desenvolvimento do processo educativo democrático, pautado em uma relação de firmeza e gentileza.

No curso, ministrado desde 2019 pelo diretor pedagógico Ricardo Gaspar, a ideia é encorajar educandos e reconhecer as potencialidades que vão contribuir para que eles superem as dificuldades que encontram. “Trata-se de educar para promover a autonomia, o otimismo, a perseverança, a determinação, a solidariedade, a flexibilidade de pensamento, o amor por aprender e tantas outras forças e virtudes necessárias para o desenvolvimento saudável, comprometido com o bem-estar individual e coletivo”, explica Maria Creusa dos Santos Gaspar, coordenadora pedagógica da escola.

Ela afirma que tudo começa com dinâmicas e práticas de autoconhecimento dos adultos para que, a partir desse exercício de autopercepção, possam se dedicar a entender melhor como crianças e adolescentes se desenvolvem em cada faixa etária. A partir disso, tomam contato com uma “caixa de ferramentas” para uma interação parental positiva.

Durante a pandemia, o conteúdo do curso ganhou outra dimensão e serviu como apoio neste momento tão desafiador tanto com relação às novas configurações de relacionamentos interpessoais quanto àquelas que se referem ao desenvolvimento cognitivo e emocional dos alunos. “Nosso curso abre as portas da escola e oferece as mãos para as famílias a fim de que, juntos, possamos promover ações educacionais de acolhimento, encorajamento e desenvolvimento da capacidade de superação de tantos novos desafios”, finaliza Maria Creusa.

E, assim, aos poucos, vamos curando as feridas que a pandemia nos legou e elaborando um novo contexto para conviver harmonicamente em um ambiente escolar saudável e acolhedor.

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